terça-feira, 19 de julho de 2011

Passa, passa, passa, passa, passageiro.

A memória me frustra. A cada dia que passa parece que o dia anterior não aconteceu de verdade. Parece uma coisa qualquer, distante, sem força. Será que adianta fazer o que estou fazendo agora? Que diferença isso realmente fará daqui uns anos? Umas semanas? Amanhã?! O quanto disso sobreviverá o bastante pra fazer qualquer diferença na hora em que eu estiver em frente a uma guria, pensando se devo beijá-la ou simplesmente virar as costas e dar o fora, ou na hora de decidir sobre fumar ou não um cigarro, ou de fumar dois ou um maço inteiro, ou na hora de decidir se durmo ou termino a garrafa de vinho? 

Lembro-me muito pouco de ontem. Lembro-me de que senti muitas coisas; algumas, na hora em que as senti, pensei serem realmente importantes, coisas deveras mudadoras de vida, mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar que merda de coisas foram essas! A impressão é de que o tempo arranca meu presente, meu agora, de debaixo de minhas unhas, do céu da minha boca, direto pra um passado distante, amorfo, incolor, inodoro, me deixando com fome de qualquer coisa, doente de qualquer coisa, com dor de qualquer coisa, que não passa. Não passa. Só o tempo passa. E eu: passarinho? Passageiro.

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"Eu acordo com uma ressaca guerra.
Explode na cabeça,
E eu me rendo a mais um milagroso dia"

Mar de gente - O Rappa